Uma morte que muda a história
(Um artigo do presidente do Sicontiba, Hugo Catossi)
A trágica morte de Eduardo Campos (PSB) dá um novo destino às eleições presidenciais. Ainda que ocupasse o terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, Campos impunha-se como um importante fiel da balança no jogo eleitoral. Se a eleição tendia para uma polarização entre os maiores partidos do país – PT e PSDB –, Campos apresentava-se como uma alternativa viável ao eleitor que rejeitava Dilma Rousseff e Aécio Neves. De certa forma, sua postulância atraía simpatizantes que não queriam nem um nem outro e preferiam uma terceira via.
Repetia-se, assim, o fenômeno Marina Silva de 2010, que coincidentemente apresentava-se como vice de Campos, e que há quatro anos, alcançou 20% da preferência do eleitorado, determinando o enfraquecimento das candidaturas de Rousseff e José Serra, então candidato do PSDB, mesmo sem disputar o segundo turno.
Se a superstição ronda as eleições presidenciais, ela imediatamente remete à morte de Getúlio Vargas, que suicidou-se no mês de agosto, causando uma comoção que levou milhares de pessoas às ruas. Foi em um 13 de agosto, data da morte de Campos que, coincidentemente, faleceu também Miguel Arraes, ex-governador pernambucano perseguido pela ditadura, e avô de Campos. A tragédia envolvendo o pessebista remete também à morte de Tancredo Neves, cujo longo calvário legitimou a posse de seu vice, José Sarney, com a anuência dos militares, mesmo que sua posse oficial não tenha ocorrido. Driblou-se a Constituição, ditada pelos homens de farda, para assim atender um inegável clamor popular.
Quem ocupará a vaga de Eduardo Campos, ora em diante? A Justiça eleitoral concede dez dias para que a chapa apresente um novo postulante. É inegável, no entanto, que Marina Silva, a vice de Campos, é mesmo o melhor nome. Quando cogitou-se uma união entre Campos e Marina para a disputa da presidência da República, imediatamente recordou-se do cacife acumulado por Marina nas eleições de 2010. Ora, ela seria a candidata natural, mas o jogo de poder não obedece lógica. Campos apresentou-se como presidenciável, enquanto Marina resignou-se na condição de vice.
A guinada do destino, contudo, parece devolver às mãos de Marina Silva uma postulância capaz de atrair os descontentes do PT – afinal, Marina e Campos foram ministros e aliados do atual grupo no poder – e surgir como alternativa aos que rejeitam abertamente a candidatura do tucano Aécio Neves.
É uma questão que fica no ar. O que virá daqui para frente pode provocar uma reviravolta que só uma história de fim trágico poderia provocar. O brasileiro tende a criar a sua própria novela, procurando compensações que desafiam qualquer proposta eleitoral, por mais correta que ela nos pareça. E, convenhamos, de promessas eleitorais e boas intenções certo lugar está cheio.
Hugo Catossi é presidente do Sindicato dos Contabilistas de Curitiba e Região.