Artigo – Ética tem custo?

Por Daniel Dallagnol*

Este artigo busca uma autorreflexão acerca do investimento profissional no campo da ética. Seus efeitos, seus resultados tanto profissionais quanto pessoais.

Quantas são as indagações sobre as questões que nos cercam na vida, sem nos darmos conta de que as respostas muitas vezes são óbvias? Não vamos responder à pergunta do título senão com algumas reflexões, pois pretendemos seja respondida de per si, sem o que não valeu a proposta do texto.

Quando entramos no campo da ética é natural que não nos sintamos muito à vontade, já que é um território pouco transitado. A afirmação que fazemos não está no contra curso dos fatos do cotidiano, tampouco em antagonismo às notáveis manifestações de alto teor ético que se possam registrar todos os dias em nossa sociedade. Não. A questão está mais ligada ao desconhecimento deste princípio-conceito, porque imaginamos que a ética é um campo exclusivo da filosofia e como não a temos ligada ao nosso cotidiano, de ordinário, nós a dissociamos do dia-a-dia.

Ética é campo vasto onde todos semeamos. Daí, o resultado da colheita ser da mesma espécie da semente. Boas sementes geram boas árvores e, por conseguinte, bons frutos. Eis o circulo virtuoso do processo de resultados, da criação.

Alguns podem imaginar que ética é assunto religioso e não são poucos que se enchem de pudores para tratar da questão, imaginando que tal é matéria para os teólogos, autoridades eclesiásticas, templos religiosos etc. Os que pensam assim, nosso particular respeito, contudo, colocam numa moldura muito acanhada um vasto horizonte.

Ainda no intuito de responder à pergunta-título, tomando da ideia criada acima, de que ética é como se fosse um “campo” , podemos imaginar: e se somente as sementes piores fossem semeadas? Poderíamos concluir que tipo de colheita teríamos? Que resultados poderíamos esperar?

Para o profissional da contabilidade, podemos dizer que o registro seria no passivo, a conta de resultados seria devedora. Prejuízo. Ora, para recuperar prejuízos, necessário seriam esforços futuros redobrados, para compensá-los até o limite de ultrapassar o ponto capaz de gerar resultados superavitários.

Toda a semeadura gera esforços produtivos. Nisso consiste a verdadeira essência dos resultados. Nem sempre ao lançar a boa semente ao solo se pode esperar colheita farta. A boa semente espera encontrar no semeador o parceiro ideal e vigilante, a fim de que a plantinha tenra não seja sufocada pelo viço da erva daninha, predadora das melhores expectativas de sucesso.

Quando a boa semente abnegada aceita recolher-se à cova escura, para dali fazer emergir o broto tenro que busca o beijo da luz, o ato não é em vão, porque se assim for não terá valido sua entrega na busca em dar sentido para a vida. O tropismo do qual estava animada a planta, fazendo romper o solo que a aprisiona é o brado definitivo da semente que demarca a potencia de seu ideal. Custou-lhe a vida, mas venceu. Será lembrada e replicada por tantas outras vidas multiplicadas no seu gesto anônimo, muitas vezes solitário.

Quantas vezes o mundo com suas propostas sedutoras nos convida a práticas infelizes?
Quanto custa para o ser humano, inserido numa sociedade perturbada, como nos dias atuais a encontramos, viver apartado dos convites infelizes? O esforço deve ser permanente, mas de resultados sempre benéficos.

Quanto esforço precisamos despender para levar a vida de modo descente e honesta? Os livros contábeis não registram estes esforços diários que o ser humano faz para manter-se imune a desvios de conduta. Contudo, os resultados bons sempre acontecem.

Todo o esforço construtivo para melhor despende energia construtiva, tanto no início quanto na manutenção do empreendimento. Não se pode imaginar que as realizações de ordem duradoura não careçam de persistência e muitas vezes altas doses de teimosia. Da boa teimosia, é claro.

Não se pode imaginar que os bons exemplos são resultados de mero acaso, em que os protagonistas fizeram acontecer sem méritos, sem esforços pessoais, sem entregas, sem dores para a conquista.

Nenhum bom resultado digno de louvor surge do nada. Nenhuma grande descoberta científica, por exemplo, está pronta e acabada e que não tenha exigido esforço do pesquisador. Não há mérito na conquista se ela não for acompanhada de idealismo, comprometimento e entrega total na busca dos melhores valores. Não são poucos os cientistas que empregam anonimamente seus esforços, senão sua vida inteira, para chegar a descobertas mínimas para o seu tempo. Contudo, um dia, resgatados os resultados obtidos, vê-se que os passos dados foram gigantescos. Vide exemplos de reconhecimento de mérito nos prêmios Nobel.

Por fim, não há sucesso sem trabalho. O primeiro é decorrência do segundo. Ser ético é empreender uma subida íngreme na montanha da vida. Contudo, os esforços serão recompensados regiamente.

Caro leitor, as breves reflexões aqui feitas não são exaustivas a fim de responder a pergunta feita no título do artigo. Nem temos a pretensão de respondê-la por você. Faça as suas reflexões naquilo que te cabe e te alcança à compreensão. Contudo, só viveremos numa sociedade ética na medida em que fizermos as boas semeaduras no latifúndio que nos cabe.

Pense nisso e contabilize seus resultados.

* Daniel Dallagnol é servidor público do quadro efetivo do Tribunal de Contas do Estado do Paraná, como Inspetor de Controle Externo. Bacharel em Ciências Contábeis pela FAE-Faculdade de Administração e Economia e pós-graduado em Auditoria e Controladoria, Gestão de Pessoas, e Psicologia das Organizações.

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