Artigo: O que podemos aprender com a Lava-Jato e demais operações
Hugo Catossi
Presidente do Sicontiba
A Operação Lava Jato completa, neste mês, 2 anos e 4 meses. Eu não sei vocês, mas, no meu círculo de amizade, a gente fala tanto dela que eu sinto como se ela já fizesse parte da família. Sem dúvidas, por muito tempo ela ainda fará parte do nosso dia a dia, já que as falcatruas parecem não acabar nunca.
A gente fala, fala e fala da operação, mas acaba perdendo um pouco do contexto geral do caso e, principalmente, do que podemos extrair dele. No site do Ministério Público Federal (MPF), há um balanço interessante que nos dá uma noção maior do que é a Lava Jato.
A operação está na 32ª fase. Já foram instaurados 1.237 procedimentos de investigação, expedidos 608 mandados de busca e apreensão e 161 de condução coercitiva. Foram 73 prisões preventivas, 87 prisões temporárias e 6 prisões em flagrante. Foram expedidos 108 pedidos de cooperação internacional e fechados 56 acordos de colaboração premiada.
Os crimes já denunciados envolvem cerca de R$ 6,4 bilhões, sendo que o valor do ressarcimento pedido, contando as multas, é de R$ 37,6 bilhões. Até o momento R$ 2,9 bilhões foram recuperados. 106 condenações já saíram, contabilizando 1.148 anos, 11 meses e 11 dias de pena. Pelo menos nove das maiores empreiteiras do Brasil são citadas nas investigações. E mais de 70 políticos já foram condenados, citados ou estão sob investigação.
Os números são absurdos, para não dizer revoltantes e desoladores, mas ainda há esperança. A Lava Jato e tantas outras inúmeras operações que pipocam pelo país são um momento importante de autorreflexão, ainda mais em ano eleitoral. É tempo de filosofarmos sobre o poder da ética nas nossas vidas e sobre o futuro.
A ética diz respeito ao respeito. Simples assim. Ela está diretamente ligada ao nosso comportamento e à forma como nos relacionamos com as pessoas. Sem ética, você se torna um sujeito egoísta e acaba prejudicando muitos. É inevitável. Imagine só o que poderíamos fazer pelo Brasil com os R$ 6 bilhões que nos foram tomados de maneira covarde e inescrupulosa.
A boa notícia é que a gente pode mudar essa situação. E o melhor: só depende de cada um de nós. Não adianta nada criticar o político que fez conchavo para desviar alguns milhões de reais se você fica com aquele um real a mais que recebeu errado de troco ou embolsou os valores da diária que a empresa pagou e você nem usou.
Além disso, precisamos dar mais valor para a política e discuti-la melhor. Chega dessa história de dizer que política não se discute. A gente pode e deve falar sobre política, só assim poderemos evoluir como democracia e sociedade. É claro, sempre se envolvendo em discussões saudáveis, sem ofensas pessoais e posicionamentos radicais.
No dia 2 de outubro, teremos a oportunidade de escolher novos prefeitos e vereadores. Precisamos, sim, votar consciente. O trabalho dos nossos políticos interfere diretamente no nosso dia a dia, na nossa qualidade de vida. São eles que, basicamente, gerenciam e coordenam a nossa vida em sociedade, discutindo, promulgando e executando leis. Então, escolha alguém com princípios.
No Sicontiba (Sindicato dos Contabilistas de Curitiba), há um bom tempo já batemos nesta tecla do voto consciente e da importância da ética. Dois imensos banners anticorrupção ainda continuam balançando aqui em frente a fachada da nossa sede administrativa.
A nossa preocupação com isso é tanta que lançamos, de modo pioneiro e inovador, um Portal da Transparência, com todas as nossas informações mais importantes. É só entrar no site www.sicontiba.com.br e acessar. Está lá.
Fomos além e sugerimos ao presidente da Fecopar (Federação dos Contabilistas do Paraná) a criação de um portal com informações de todos os sindicatos de contabilistas do Estado; são 17 ao todo. Imagine que legal se essa moda pega.
Para fechar, volto a dizer que a mudança depende de cada um de nós. Só assim teremos um Brasil mais justo, honesto, ético, seguro e próspero.